A dublagem sempre esteve muito presente em nossas vidas e sua relevância só cresceu ao longo dos anos, graças ao crescimento do nicho geek e nerd. É um trabalho mais importante do que podemos imaginar.
Antes da opção de assistir nossos programas favoritos no idioma original, estivemos presos na versão brasileira. Porém, mesmo que a preferência nos dias de hoje seja pelo material legendado, a dublagem está longe de ser descartada – afinal, ela é crucial para o universo infantil e acessibilidade.
Você sabe como a dublagem chegou ao Brasil? Como são feitos os trabalhos até chegar ao produto final?
A história da dublagem
O cinema era mudo até 1927, quando estreou o primeiro longa-metragem com falas e canto sincronizados: O Cantor de Jazz. O filme foi estrelado por Al Jolson, o primeiro a cantar e falar em um filme.
A necessidade de adaptar o filme para outros idiomas começou no encalço do cinema sonoro, pois, na euforia da novidade, surgiu a pergunta: como o público de outros idiomas teria acesso a essas produções?
Ainda na onda do cinema mudo, onde as falas dos personagens apareciam em quadros após o movimento labial dos atores, a solução foi traduzir estas legendas para outros idiomas, vencendo assim o primeiro obstáculo. Porém, a resposta que grandes estúdios, como a Paramount e a MGM, encontraram foi a produção de versões francesas para os filmes americanos.
Esta alternativa, obviamente, gerou custos muito altos e não conseguia atingir o público ainda adepto do cinema mudo. Acabava, então, por não valer a pena.
Não demorou muito para que outra opção surgisse. Os diretores Jacob Karol e Edwin Hopkins lançaram, em 1930, um sistema sonoro que permitia a substituição das vozes originais dos atores por outras que fossem gravadas em estúdio. Alguns países da Europa não perderam tempo e foram logo seguindo a tendência da doublage – palavra francesa que originou o termo dublagem.
A chegada da dublagem ao Brasil
O Brasil, um dos países que recebia filmes com legendas, recebeu a novidade apenas no final da década de 1930, com desenhos animados sendo dublados para o cinema.
O grande marco da dublagem no país foi a animação Branca de Neve e os Sete Anões (Disney), em 1937, seguido de Pinóquio, Dumbo e Bambi.
Principais estúdios no Brasil
Muito provavelmente você já ouviu as palavras “Versão Brasileira…”. A maioria dos estúdios nacionais possui esse slogan seguido de seu nome, que aparece durante os créditos iniciais dos trabalhos.
O estúdio de dublagem Herbert Richers foi um dos primeiros 100% brasileiro, fundado na década de 1950 no Rio de Janeiro. Chegou a ser o principal estúdio da América Latina, encerrando suas atividades após a morte de seu fundador, em 2009. Um dos trabalhos notáveis do estúdio foi a série Um Maluco no Pedaço.
Para quem foi criança na década de 1990, o estúdio Gota Mágica é sinônimo de nostalgia. Fundado em meados de 1993, tornou-se referência por trazer, pela primeira vez para o português, animes como Os Cavaleiros do Zodíaco, Sailor Moon, Dragon Quest, Samurai Warriors, Guerreiras Mágicas de Rayearth e Dragon Ball.
Outro ponto de destaque foi o fato do estúdio também fazer versões das aberturas dos animes, hoje em dia considerados clássicos. O Gota Mágica encerrou suas atividades oficialmente em 1999.
Fundado em 1985, o estúdio Delart possui sedes em São Paulo e Rio de Janeiro. Dubla para os grandes Warner Bros, Paramount Pictures – que divide com a Unidub, de São Paulo –, 20th Century Fox, Universal Pictures e Columbia Pictures.
Dentre a lista extensa de trabalhos, podemos destacar Deadpool 1 e 2, os quatro primeiros filmes da franquia Piratas do Caribe, vários fílmes dos X-Men (X-Men 2, O Confronto Final, Dias de um Futuro Esquecido, Apocalipse e Fênix Negra) e todos os filmes da saga Harry Potter – ganhando notoriedade por manter os dubladores de Harry, Hermione e Rony, criando um laço com os fãs.
O Som de Vera Cruz, também carioca e fundado em 2002, se destaca por ser responsável pela versão em português de diversos desenhos e animes: Super Choque, a 3ª temporada de Avatar: A Lenda de Aang, A Lenda de Korra, Black Clover, RE:Zero, Free! – Iwatobi Swin Club e Maho Tsukai no Yome (The Ancient Magus Bride).
O Brasil continua sendo um dos principais mercados da dublagem, sendo também considerada uma das melhores do mundo mesmo sofrendo com o fechamento de estúdios importantes.
Como é feita a dublagem
O trabalho de dublagem começa muito antes de escalar o elenco para o projeto. O estúdio recebe o filme e cabe ao tradutor passar o material para o idioma brasileiro, muitas vezes numa tradução literal do material.
A adaptação é importante, pois cada país tem a sua cultura e peculiaridades. É preciso envolver o espectador para o enredo. Deixar uma piada ou uma referência em seu conteúdo literal afasta o grande público da ideia que a cena quer passar.
Muitas vezes, essas adaptações não agradam muito ao público atual, principalmente quando se trata dos animes, já que os fãs mais ligados costumam assistir à produção original, legendada.
No Brasil, o trabalho é desempenhado, principalmente, por dubladores profissionais. Nem todo ator é dublador, mas todo dublador precisa ter a formação de ator e possuir o DRT (Atestado de Capacitação Profissional, emitido pela Delegacia Regional do Trabalho). Afinal, dublar requer um preparo para conseguir sincronizar a voz com a boca do ator original, conseguindo reagir às emoções do personagem e às cenas emotivas que se desenrolam durante a trama.
Não é raro um dublador não saber exatamente o que vai dublar, principalmente quando se trata de material inédito. Como o texto é recebido no dia da gravação, o profissional não passa pelos mesmos preparos que o ator que gravou a cena, tendo que se adaptar – com as orientações do diretor de dublagem – em um tempo muito curto para se aproximar o máximo possível da interpretação do ator.
Já no estúdio de gravação, depois de receber o texto traduzido e revisado, o roteiro é dividido em partes de 20 segundos – os chamados anéis –, onde é possível separar a parte de cada personagem e conhecer qual será a participação de cada dublador. Cada dublador chega a gravar, por hora, cerca de 30 anéis.
Depois de todo material gravado, cabe ao profissional de som sincronizar, realizar os ajustes necessários e gravar na mídia solicitada pelo cliente para então o material ser distribuído ao público.
Saber como a dublagem ancorou no Brasil e como ela é feita nos ajuda a valorizar o profissional que, independentemente da preferência por conteúdo legendado, está presente no dia a dia.
Veja, a seguir, o dublador Wendel Bezerra explicando a construção de um dos personagens de Dragon Ball, o Goku Black.
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