Não teve pra ninguém. A interpretação de Joaquin Phoenix como Coringa foi um dos pontos altos do cinema em 2019, consagrando o ator com todos os prêmios aos quais disputou como intérprete do personagem – SAG Awards, Globo de Ouro, BAFTA, Critic’s Choice e Oscar.
Phoenix está vivendo merecidamente o ápice de sua carreira até então e o mesmo pode ser dito sobre sua vida pessoal. Sua atuação no filme de Todd Philips o colocou de volta aos holofotes, o que também evidencia mais da personalidade do ator e as causas que defende.
Ainda que ovacionado durante toda a temporada de prêmios, matérias e relatos sobre o comportamento difícil do ator nos backstages também ganharam atenção. Seu emocionante discurso no Oscar 2020 abordou temas atuais e relembrou momentos dolorosos de sua vida.
Joaquin Phoenix: início da vida
Alguns atribuem a facilidade que Joaquin Phoenix tem em interpretar personagens conturbados ao início difícil de sua vida. Os Phoenix eram hippies evangelizadores que viajavam entre Estados Unidos e América do Sul e fizeram parte da seita Filhos de Deus – que, por trás da fachada da pregação de amor livre e revolução espiritual, incitavam a prostituição entre seus membros para atrair novas pessoas.
Quando Joaquin nasceu, seus pais pediam dinheiro, seus irmãos atuavam nas ruas de San Juan, em Porto Rico, e não iam à escola. A família deixou o culto quando tomou noção do que ocorria por baixo dos panos.
“Eles eram idealistas e acreditaram que estavam num grupo com gente que tinha seus valores. Eles deviam estar buscando por segurança e uma família”, disse o ator em uma entrevista.
Depois de deixarem a seita, a família passou a perseguir a fama em Hollywood, com as crianças se tornando uma trupe de artistas. River Phoenix, o irmão mais velho, se tornou a grande estrela.
A morte de River Phoenix
River Phoenix ganhou notoriedade em Conta Comigo, de 1986, e por representar o jovem Indiana Jones em A Última Cruzada. Além disso, foi indicado ao Oscar de Melhor Ator Coadjuvante por O Peso de um Passado, em 1988. River também era músico, tendo escrito várias canções para a banda Aleka’s Attic.
Em 31 de outubro de 1993, River sofreu uma overdose de heroína e cocaína (vícios desconhecidos do público na época) diante dos irmãos mais novos, Rain e Joaquin, e de sua namorada Samantha Mathis. Na saída da boate Viper Room, em Hollywood, Califórnia, River desmaiou na calçada e foi declarado morto no hospital.
Sua morte foi considerada pela mídia um dos momentos mais chocantes da época. Perder o irmão mais velho diante de seus olhos mudou a vida de Joaquin. A imprensa sensacionalista dificultou – e muito – o processo de luto da família, incluindo invadir o funeral e fotografar o corpo de River.
Quase 27 anos após a morte do irmão, Joaquin raramente fala sobre a tragédia e o processo de luto pelo qual ele, sua mãe e suas irmãs passaram.
Em recente entrevista ao 60 Minutes, o intérprete de Coringa declarou, sério: “Nós éramos muito distantes do mundo do entretenimento. Nós não assistíamos a programas de TV, não tínhamos revistas de entretenimento na nossa casa”.
“O River era um ator conhecido e nós não compreendíamos isso. Quando estivemos mais vulneráveis havia helicópteros em cima da gente, pessoas invadindo a nossa casa. Isso com certeza prejudicou o meu processo de luto”, completou.
Alcoolismo
Em 2005, Joaquin se internou em uma clínica de reabilitação logo após as filmagens de Johnny & June. Foi durante o filme que o ator percebeu o grau de dependência que tinha.
Em entrevista ao jornal The New York Times, disse: “Eu me via como um hedonista, era um ator em Hollywood que queria me divertir por um momento. Mas estava sendo um idiota, indo por aí bebendo, tentando ferrar com as pessoas e entrando em clubes estúpidos”.
I’m Still Here
O documentário polêmico foi uma das peças que colocou em dúvida as faculdades mentais do ator. Produzido junto com Casey Affleck, o material com cenas de gosto duvidoso se tornou um marco bizarro do cinema norte americano. Joaquin se submeteu a uma deterioração física, mental e de reputação inigualáveis.
A perda o assola novamente
O vício em drogas foi o algoz de outras pessoas importantes na vida de Joaquin. Heath Ledger, amigo desde o início da carreira e de quem herdou o legado do sombrio como Coringa.
Ledger morreu devido a uma overdose acidental de remédios prescritos. Philip Seymour Hoffman, com quem contracenou em O Mestre, também faleceu de forma semelhante a Heath.
Comportamento
Durante as gravações de O Mestre, o diretor do longa, Paul Thomas Anderson, afirmou em entrevista ter ficado preocupado com a integridade física do ator. Joaquin mergulhava tanto no personagem que chegava a quebrar objetos em cena e se ferir.
“Acredito que houve várias oportunidades em que podia ter se machucado e se machucou. Mas isso é um pouco o que você quer (como diretor), sempre dentro da razão”, acrescentou o diretor.
Além da passionalidade, Joaquin também é um ator metódico e perfeccionista, chegando a extremos que poucos em Hollywood estão dispostos a encarar: permanecer meses em uma cadeira de rodas para interpretar um paraplégico, caminhar o tempo todo com uma espada real no set de gravações de Gladiador, chegou a discutir com o diretor de fotografia de Coringa e também impôs uma série de restrições para os atores coadjuvantes de Johnny & June, solicitando que fossem impedidos de sair de suas celas para comer ou beber, afim de aumentar a tensão na sequência passada na cadeia.
Tais atitudes obviamente geraram atritos com outras celebridades. Durante as gravações de Coringa, frequentemente Phoenix e Robert De Niro se enfrentavam em debates acalorados.
Acumulou atritos com Ridley Scott, diretor de Gladiador, mas um dos maiores desconfortos foi com a atriz Gwyneth Paltrow, com quem protagonizou o filme Amantes e boicotou as promoções do longa, o que acabou prejudicando seu desempenho.
Sendo ele próprio um personagem cativante por vezes questionável e incompreensível, Joaquin não só é um dos exemplos que a vida Hollyoodiana não passa nem perto de ser um conto de fadas, mas também que a redenção existe e é um processo lento e constante.
**Este texto é uma coluna opinativa e as opiniões de seu autor não refletem, necessariamente, a opinião do EiNerd.
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