O Rei Leão é um épico praticamente unânime de quem foi criança nos anos 1990. É quase impossível encontrar alguém que tenha sido criança nessa época e que não assistiu ou não gostou desse filme. Recentemente, a Disney lançou um remake da produção em live-action e movimentou todo o mundo. A estreia foi uma das mais esperadas do ano e, agora que já está em exibição há algumas semanas, o resultado tem dividido as opiniões.
Fala a verdade: todo mundo sabe cantar Hakuna Matata! Todo mundo sente aquele nó na garganta quando Simba encontra seu pai, Mufasa, morto. Todo mundo sabe que “tudo que o sol toca é o reino” e que jamais deve ir ao cemitério de elefantes! Todo mundo também sabe que fazemos parte “desse ciclo sem fim”.
Não existe uma pessoa no mundo que não conheça a história de O Rei Leão. Então, por que raios ainda queremos ir ao cinema para ver o novo filme? Essa é fácil: porque queremos ver como essa história vai ser contada dessa vez!
A principal novidade da nova versão é o que tem sido chamado de ‘live-action’ que, claro, não é exatamente um live-action. O filme não conta com atores de verdade, muito menos com animais atores falantes. A proposta era fazer um filme hiper-realista, realizado em computação gráfica. A Disney já tem apostado nessa fórmula com vários de seus grandes clássicos nos últimos anos.
É importante ressaltar que a primeira versão de O Rei Leão não foi vista apenas uma vez pelas crianças. A maioria assistiu ao filme várias e várias vezes, sabe a ordem das cenas, falas icônicas, entre outros. Esse detalhe é bastante perigoso, pois o público chega ao cinema sabendo o que espera ver.
Outro detalhe é que o clássico não se segmentou entre meninas ou meninos. O Rei Leão é uma aventura que englobou os dois públicos, saindo um pouco das histórias de princesas, que naturalmente era alvo para meninas. Ou seja, o novo filme precisava agradar a todo mundo!
Como se já não bastasse o afeto que as pessoas possuem por essa animação, a Disney pegou pesado na divulgação desde o final de 2018, aumentando cada vez mais a ansiedade e a expectativa do público pelo lançamento.
O Rei Leão entrega tudo que prometeu?
Pra começar, o visual está lindo! Deslumbrante mesmo. Tanto no que diz respeito à natureza, os animais, o cenário da savana em si, quanto à fidelidade com as cenas do filme (que, falando sério, é quase uma obrigação para com os fãs, não é mesmo?). Os movimentos dos animais, a iluminação, o vento, o fogo, enfim, tudo muito bonito mesmo! Nesse quesito, tá de parabéns.
Uma das maiores qualidades de O Rei Leão é, definitivamente, a trilha sonora. Pra quem não se lembra, Elton John foi responsável pelas composições originais. Por falar nele, ele esteve de volta ao projeto, não somente para regravar a trilha e reformular o que já existia, mas também incluiu canções inéditas. Isso foi, sem dúvidas, uma tacada de mestre: trazer o “pai” da trilha original de volta pra dar uma necessária atualizada.
Pra coroar tudo isso, o cantor topou fazer isso antes de se aposentar – ou seja, essa trilha será uma das últimas coisas que ele vai produzir.
Sobre as dublagens, comecemos falando do protagonista, Simba. Na versão original, ele tem a voz do ator Donald Glover, mais conhecido como sua persona artística Childish Gambino. Já era de se imaginar que ele atuaria bem e ele simplesmente confirmou esse fato, botando pra quebrar!
Para o par de Simba, a leoa Nala, nada mais nada menos que a cantora Beyoncé. A Disney, definitivamente, não estava de brincadeira com esse remake. Quem ouviu ‘Can You Feel The Love Tonight’, entende. A atuação de Beyoncé também ficou muito bacana. Uma artista como poucas, essa mulher canta, dança, compõe e atua.
Uma das coisas mais legais é James Earl Jones, a voz original de Mufasa, pai de Simba, retornando pro mesmo papel, olha que demais! De verdade, é emocionante ouvir aquele vozeirão tradicional do personagem, mas com a imagem realista. É de arrepiar!
Nem tudo são flores…
Verdade seja dita, doa a quem doer: a versão brasileira não ficou nada legal. Simba e Nala, aqui, são o ator Ícaro Silva e a cantora Iza. O ator está em uma fase bacana da carreira, fez um trabalho bem legal em ‘Coisa Mais Linda’, série da Netflix. Ele tem ganhado uma projeção mais madura e perdendo o estigma de “ex-Malhação”. Infelizmente, no entanto, ele não é dublador.
Simplesmente, não rolou. É outro universo, requer outro tipo de interpretação. E o mesmo vale para Iza. É linda, é carismática, é muito boa no que faz, mas não é atriz. Simplesmente não é atriz. Sua interpretação foi desanimada e Nala se tornou a única leoa carioca da Terra do Reino, destoando completamente do trabalho de dubladores profissionais, como foi o caso de Marcelo ‘Salsicha’ Caodaglio, a voz brasileira de Zazu. É um abismo nítido de interpretação que empobrece a experiência.
Mesma coisa com os filhotes: botaram quem pra dublar? Duas crianças que participaram do The Voice Kids! Musicalmente parece uma boa alternativa, acontece que as crianças só cantam uma música no filme. O resto do trabalho requer interpretação! É difícil entender isso? A versão brasileira falha nesse sentido.
Vale a pena ou não?
A grande diferença do filme inteiro, foi o vilão Scar. Não, ele não é mais aquele leão moreno com a juba toda trabalhada na escova progressiva. Como o filme está hiper-realista, claro que o personagem não podia ficar baseado na aparência do desenho – e ficou ótimo!
Muita coisa mudou no que diz respeito a ele. O tom das falas saiu do registro do deboche que tinha no desenho e está agora muito casca grossa. O cara é definitivamente um vilão pro nosso tempo.
E tem mais! Teve fã que se decepcionou, mas a famosa cena de Scar se aliando às hienas, ‘Se Preparem’, mudou bastante. Não tem mais nada daquela movimentação, a marcação da cena é totalmente outra.
A própria música-tema ficou quase um recitativo com fundo musical. Não sei se modificaram isso por que era realmente assustador para as crianças na animação (então imagina no live-action) ou por causa das várias referências nazistas que continham ali. O resultado não é ruim e ficou bem feito de verdade.
Algumas outras pequenas mudanças ocorreram, por exemplo, Rafiki na hora de fazer seus feitiços, suas magias, de perceber as coisas e até mesmo nos poucos diálogos que tem. O personagem recebeu uma repaginada, ficando mais profundo, inclusive, embora tenha mudado apenas detalhes.
O interessante é que, do roteiro original, pouquíssima coisa mudou. Roteiro respeitado é fã feliz, não é mesmo?Há uma ceninha ou outra acrescentadas, uma fala ou outra alterada… mas, no geral, está bastante fiel.
Além do mais, o filme conseguiu uma façanha muito importante: resgatar aquele combo de emoções que trazia desde 1994, quando conhecemos O Rei Leão pela primeira vez. Não somente funcionou, como abrilhantou várias coisas, como as tramas de comédia com Timão e Pumba, cresceu o espaço onde se explica Simba se tornando adulto.
Tem ainda aquele toque meio ‘Hamlet’ entre Simba e o fantasma de Mufasa. E a emoção na apresentação de Simba na Pedra do Reino com aquela trilha emocionante que é o tema central do filme?
Não podemos esquecer jamais, é claro, da cena mais traumática, dramática e triste da infância de muita gente: Simba encontra seu pai morto. Haja coração! Não houve apelação e exagero. Ficou emocionante na medida certa! Foi divulgado, inclusive, que o próprio diretor Jon Favreau chorou ao ver o filme finalizado.
Foi surpreendente ver como a construção desses personagens está bem feita. Não ficou humanizado, está totalmente natural, está “animal” e, mesmo assim, contaram a história com maestria. Você vê os leões e acredita que são leões de verdade, no movimento, no olhar, nas expressões (que, surpreendentemente, não estão humanas). A diferença é que eles falam e cantam!
Resumo da ópera? É um filmaço! Disney, acertou legal! Dica do coração: assista a versão legendada.
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