The Handmaid’s Tale é, indiscutivelmente, uma das séries de maior sucesso no momento. Sendo a primeira de um serviço de streaming (Hulu) a vencer o Emmy de Melhor Série Dramática, a história baseada no livro de Margaret Atwood segue garantida até a quarta temporada.
Mas quais temas a série aborda? Suas curiosidades? Quais suas conexões com a realidade?
Enredo
Em 1985, a canadense Margaret Atwood lançou o livro que seria sua obra prima, The Handmaid’s Tale (O Conto da Aia). A história conta que, em um futuro próximo, as taxas de natalidade despencam vertiginosamente por conta da esterilidade que cada vez mais acomete a homens e mulheres, devido à poluição e doenças sexualmente transmissíveis.
A “culpa”, porém, caiu nas mãos das mulheres, por viverem cada vez mais para o trabalho. Por terem se tornado independentes, deixaram de lado seu “dever biológico”.
No enredo, um ataque terrorista mata o presidente dos Estados Unidos da América e todo o alto escalão do governo. Logo, uma facção de nome “Filhos de Jacó” assume a liderança do país.
Sob o pretexto de “restaurar a ordem”, a Constituição do país é suspensa. Rapidamente, os direitos das mulheres são reduzidos, de modo que todas passam a estar sobre a “tutela” de seus maridos ou parentes homens mais próximos.
Um novo regime se ergue movido à teocracia cristã: a República de Gilead. A história é contada em primeira pessoa pela aia Offred (Of-Fred, “De Fred”), uma das mulheres que ainda são férteis e mantidas unicamente para reprodução.
Dentro desta realidade distópica governada pela religião, a série apresenta diversos temas e situações pesados para o telespectador.
A trama gira essencialmente em torno da opressão feminina, aplicada a todas – desde as “Marthas” (nome dado para as mulheres designadas a serem empregadas nas casas dos Comandantes) até as Esposas (mulheres dos Comandantes). Todas são proibidas de ler, sob pena de perder um dedo pelo “pecado”. Não importa sua posição, todas vestem seus uniformes: Esposas usam azul; Marthas apenas cores opacas, como bege e cinza; e as Aias, vermelho.
– Premiada, figurinista explica roupa das aias em The Handmaid’s Tale
Ficção e realidade
A obra de ficção possui diversos antecedentes na vida real. Apesar de ser canadense, Margaret Atwood disse que a história se refere aos Estados Unidos dos anos 1980 (época em que o livro foi escrito), com o crescente poder político dos fundamentalistas cristãos, preocupações ambientais e ofensivas contra os direitos de reprodução das mulheres. Vale lembrar que o livro
Um documentário amplamente divulgado na época, intitulado O Grito Silencioso, reforça o que se vê em The Handmaid’s Tale. O vídeo mostrava ataques contra clínicas abortivas e sugestão de uma lei de direito civis aos fetos.
A série traz a queda dos Estados Unidos para o presente, por volta de 2017, o que torna a regressão causada pelo governo de Gilead ainda mais pungente. Offred, nascida June Osborne, é pega quando tentava fugir para o Canadá com o marido e a filha pequena, chamada Hannah. Separada da menina, Offred se vê cercada de outras jovens férteis em uma “escola para Aias”, onde muitas também tiveram seus filhos arrancados, e obrigada a submeter-se a doutrina para se tornar uma serva que inclui castigos físicos.
Um dos pontos mais pesados da trama são as “cerimônias”. As Aias, como únicas mulheres que ainda podem engravidar, são obrigadas a se submeter a estupros ritualizados uma vez ao mês, durante o período fértil, na presença da Esposa do Comandante.
Margaret Atwood se baseou em fatos acontecidos em outros países para criar esse aspecto de sua obra. Na Argentina, durante o golpe militar de 1976, mais de 500 crianças “desapareceram” e acabaram nas mãos de líderes do governo. Na Romênia, Nicolai Ceausescu tentou aumentar as taxas de natalidade do país policiando as mulheres grávidas e proibindo não só abortos, como, também, o uso de métodos contraceptivos.
Política
O que mantém o tom atual de uma trama feita na década de 1980? O cenário político atual dos Estados Unidos tornou o impacto ainda maior. A série estreou no Hulu apenas 3 meses após a posse de Donald Trump como presidente, de modo que os pontos críticos da obra pareceram cada vez mais possíveis de tornarem-se concretos.
Elementos da vida real, como tendências de Trump vistas como autoritárias, declarações de seu vice-presidente classificadas como homofóbicas e, principalmente, a inércia da população, mesclaram-se com o que é retratado na série, como ataques terroristas islâmicos, lei marcial, regime de extermínio dos homossexuais (“Traidores de Gênero”, na série) e uma sociedade que prioriza a reprodução em detrimento dos direitos das mulheres.
A série aponta que a culpa para a ascensão de Gilead é a falta de ação da população quando os primeiros passos foram dados, até que fosse tarde demais.
“As nações nunca constróem formas radicais de governo em bases que não estão já lá”, escreveu Margaret Atwood para o jornal britânico The Guardian em 2012.
Curiosidades
A seguir, algumas curiosidades sobre The Handmaid’s Tale:
– Joseph Finnes, que interpreta o Comandante Fred Waterford, é irmão mais novo de Ralph Finnes (Lord Voldemort, em Harry Potter);
– Dos 5 diretores da série, 4 são mulheres;
– O nome de Offred nunca é dito no livro, mas na série é dado logo no primeiro episódio;
– Além de ser a primeira série de streaming a ganhar o Emmy de “Melhor série Dramática”, The Handmaid’s Tale também ganhou “Melhor Atriz em Série de Drama” para a protagonista Elisabeth Moss, “Melhor Atriz Coadjuvante” para Ann Dowd, melhor roteiro e melhor direção;
– A roupa das Esposas é azul pois simboliza a pureza da Virgem Maria;
– Margaret Atwood participa da produção como consultora da série;
– A República de Gilead, onde a história se passa, é mencionada várias vezes na Bíblia no livro de Gênesis. A história também se refere diversas vezes à passagem bíblica onde Raquel oferece sua aia Bila para seu marido, Jacob, para que por meio dela, Raquel possa ter filhos.
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